- Fabiano Lana
Churchill: o mito sobrevive à desconstrução
A diferença entre um ser histórico e o suposto ser real é o tema geral de Churchill, em cartaz nos cinemas. Já herói dos ingleses, pela premonição aos perigos do nazismo, pela resistência às investidas aéreas de Hitler contra Londres, o célebre primeiro-ministro inglês revela-se frágil e contraditório neste filme, quando está em questão o desembarque aliado na Normandia, previsto para os primeiros dias de junho de 1944.

Há momentos em que se celebram mitos. Há aqueles que se esforçam para desconstruí-los. O filme de Jonhatah Teplitzky aparentemente se insere nesse projeto de desmantelamentos de semideuses. Mostra que em um momento crucial da história da Segunda Guerra, e por consequência da humanidade, o grande Churchill estaria equivocado, ultrapassado. Temia uma repetição de um erro de 1915, quando na Primeira Guerra tropas aliadas promoveram uma fracassada invasão à Turquia, com milhares de mortes. Churchill, à época, era o responsável pela marinha britânica.
Trata-se de uma obra densa (mas não cansativa, ao contrário), em boa parte pelo esforço do ator Brian Cox, que segurou um filme em tantos momentos focados nos semblantes do líder. Vê-se ali alguém com medo do fracasso, com receio de se tornar irrelevante, às vezes mesquinho com subordinados, inseguro com relação ao seu papel na história do país. Com a consciência de que a Inglaterra pode ter salvado o mundo do nazismo, mas se tornaria uma nação menor depois do fim das batalhas. Novos atores, os EUA e a URSS, dariam as cartas. Novos políticos, mais jovens, comandariam o mundo.
A força da obra está na própria compaixão que Churchill desperta. Mesmo inadequado naquele momento, o primeiro-ministro se revela profundo, humano por meio da reconstrução artística – e nesse sentido o mito que era para estar destruído se revela mais forte. Com tantos erros e acertos, hoje é um herói do mundo.
Confira aqui a programação.
Foto - divulgação
Fabiano Lana é jornalista, filósofo, cinéfilo, colecionador de discos de vinil e colaborador da Se7e Cultura