- Marcelo Araújo
O rádio faz a diferença
Nesse fim de semana, uma triste notícia para o rádio no Distrito Federal e no Brasil. Na noite de sábado, 23 de setembro, perdemos Lúcia Garófalo, locutora e empreendedora do setor. Junto com o marido, o falecido Mário Garófalo, ela criou em 1980 a Brasília Super Rádio FM. Lúcia morreu aos 72 anos, vítima de um câncer. Tive o prazer de conhecer esse casal simpaticíssimo e encontrá-lo em várias ocasiões em eventos de cultura e comunicação na capital do país. Os dois deixam saudades.
A Brasília Super Rádio FM é conhecida na cena candanga pelo slogan consagrado na voz suave de Lúcia: “A diferença é a música”. A casa apostou em uma programação muito diferente das emissoras mais comerciais. Enquanto nessas últimas quatro décadas, a maioria das empresas do setor radiofônico privilegiou artistas de qualidade para lá de duvidosa, baixando cada vez mais o nível com sertanejo, axé, pagode, funk e afins, os Garófalo criaram um veículo que alia informação a especiais dedicados ao jazz, à música erudita e à ópera, entre outros gêneros.

Foi na Brasília Super Rádio que há 30 anos descobri o Clássicos de Todos os Tempos, totalmente produzido com CDs, novidade na época. Até hoje, o Clássicos de Todos os Tempos vai ao ar diariamente, das 20h às 22h, com grandes orquestras interpretando obras de Mozart, Wagner, Beethoven e diversos compositores.
Desde sua criação, no fim do século 19, o rádio resiste como importante canal de comunicação com as massas. Seu fim foi decretado mais de uma vez, em momentos como o surgimento da televisão e da internet, porém se adaptou a novas realidades. As web radios são exemplo de como essa mídia se reinventou, em um formato que possibilita ao ouvinte tanto as transmissões on-line quanto criar seu próprio cardápio a partir de uma programação gravada.
Particularmente, gosto de ouvir rádios de jornalismo, hábito que mantenho de manhã, me antenando com as principais notícias enquanto tomo café e me arrumo para o trabalho. Bem cedo, já fico sabendo informações de utilidade pública, como a situação do trânsito ou o boletim meteorológico.
Mesmo com tanta porcaria, ainda há trabalho de qualidade desenvolvido nas ondas curtas, médias e longas. Quero dedicar esta coluna à memória de Lúcia Garófalo e a todos os que batalham para que o rádio seja instrumento para potencializar a educação, a cultura e o acesso à informação e não somente uma caixa de ruídos primitivos usados como trilha sonora para dancinhas apelativas que alguns insistem em chamar de música.
Marcelo Araújo é jornalista, escritor e colaborador da Se7e. Autor do blog www.tijoloblog.wordpress.com. Publicou os livros Não Abra – Contos de Terror, Pedaço Malpassado, A Maldição de Fio Vilela, A Testinha de Gabá e Casa dos Sons.