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  • Fabiano Lana

Joaquim, um filme que obedece aos mandamentos


Todas as comunidades têm suas regras. E algumas são bastante severas com quem não as segue. Por trás de intelectuais, artistas, pode haver um comportamento de matilha que pune quem não obedece a mesma tendência de momento. Um exemplo nacional se deu agora em festival de cinema em Pernambuco no qual sete cineastas retiraram seus filmes apenas porque não concordavam com as supostas posições políticas de duas obras inscritas, que seriam de “direita”. Não se enganem, o movimento é autoritário.

Joaquim, de Marcelo Gomes, é um exemplo de como seguir à risca esse script cultural. Um espectador distraído pode até achar que a obra se trata de uma reconstituição da vida de Tiradentes que já leu em algum livro ou em panfletos oficiais. Não é nada disso.

Foto: Divulgação

O mito de Minas, no caso, atende à cartilha de nossos tempos: o personagem não é um ídolo, é um homem comum. Os colonizadores portugueses são tíbios. Os ricos são fúteis. A nobreza está entre os que foram colonizados ou oprimidos. A mulher escrava empoderada, corajosa, é o verdadeiro herói da trama entre tantos fracos. Enfim, pelas (nem tão) novas regras culturais o que antes era transgressão agora é a norma. O filme Joaquim é exemplo disso. Marcelo seguiu o pré-roteiro ideológico e não terá problemas com a turma.

Essas ressalvas significam que o filme é ruim? Não. A despeito desses enquadramentos, Joaquim traça um Tiradentes obsessivo, agônico, compulsivo, hipnótico. Um trabalho de força do ator Júlio Machado. Internamente a história tem sua coerência e mesmo inventividade. A depender da concentração podemos esquecer que estamos no cinema e somos transpostos para aqueles cerrados calorentos em busca de ouro. Vale o ingresso, mas com a observação de que não é para qualquer público.

O espectador que assistir Joaquim vai aprender mais sobre a história do mártir da independência por causa do filme? Bem, vai aprender o que certos grupos querem que você saiba de uma presumida história brasileira. É uma ótica, distante do que poderíamos chamar de real, assim como as versões oficiais aprendidas na escola.

Serviço:

Joaquim está em exibição no Cine Brasília. Veja aqui a programação.

Fabiano Lana é jornalista, filósofo, cinéfilo, colecionador de discos de vinil e colaborador da Se7e Cultura


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