- André Campos
Vai ser Julia Roberts lá em casa
Desculpa aí, People: a mulher mais bonita do mundo é a minha

Foto: divulgação
Neste meu vácuo existencial que vai do fim da sexta temporada de Homeland à estreia da sétima de Game of Thrones, sóem meados de julho, a vida segue na banguela.
Mas eis que a revista People detona meu marasmo outonal ao eleger Julia Roberts a mulher mais bonita do mundo em 2017.
Dirão vocês, com toda razão, que esse tipo de eleição é anacrônica, resquício de uma sociedade machista-patriarcal. Que um ranking ultrapassado assim revela bem mais a cafonice de quem o divulga – no caso, eu – do que o atraso preconceituoso de quem o realiza.
Visto a carapuça e aceito a crítica (de boa). Foi mal. Desculpas oferecidas e – rogo – aceitas, bora em frente.
Ainda fico feliz ao saber que uma mãe de três filhos, aos 49 anos, consegue brigar de igual para igual com a meninada.
Não é pouco num mundo obcecado pela juventude e no qual envelhecer permanece um tabu. Nada contra as novinhas, claro. E tudo a favor das coroas, óbvio.
A eleição de Julia Roberts me remeteu ao slogan de um canal especializado em esporte que, com sabedoria, garante: “O melhor time? É o seu”.
Tal mote futebolístico apertou – mistério dos mistérios – o gatilho das minhas descalibradas sinapses e acabei por promover lá em casa uma eleição inspirada na agenda (digamos, vintage) da revista People.
Resultado: com 100% dos votos (o meu) minha mulher – dona Cíntia, aos 45 anos – foi eleita a gata mais lindona do planeta em 2017. Ano que vem tem mais. Advinha quem vai ganhar de novo?
Antes de terminar, me permitam, ainda, um devaneio místico. Afinal, estamos no Planalto Central. Primeiro, uma introdução: há quem acredite, como o sátiro romano Petrônio, que a humanidade criou os deuses por medo.
Possuído pela referência clássica do século 1 e pela efeméride que celebra agora, em maio, as cinco décadas do lançamento de Terra em Transe, recomendo aos devotos do cinema enfrentar eventuais temores e tremores lavajatianos com sacrifícios no altar da divindade-fílmica de Glauber Rocha.
O longa-metragem de 1967 está disponível no YouTube. A viagem não dá moleza espiritual. No entanto, os peregrinos da épica travessia cinematográfica são recompensados com os delírios mais deslumbrantes de uma época do Brasil – e de todo Ocidente – em que mesmo as derrotas políticas buscavam desembocar no “triunfo da justiça e da beleza”.
André Campos é jornalista e colaborador da Revista Se7e